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O Abuso do Flash - O bom, o mau e o péssimo

O uso do Flash está a aumentar na Internet; e a banalizar-se. Mais grave do que o uso esporádico, alguns sítios são inteiramente feitos em Flash; importa questionar o que eles trazem de novo à Internet. Há alguns sítios que fazem um uso excelente do Flash, mas a maioria (na minha opinião) apenas se banaliza.

O bom

Certas funcionalidades praticamente só podem ser implementadas em Flash –- jogos (na Web), simuladores visuais, exibição de vídeos, etc. Imagine por exemplo o sítio de uma agência de notícias que publica uma apresentação em Flash sobre um assunto complexo -– por exemplo, uma previsão da influência das variáveis macro-económicas globais na economia de um pequeno país, como Portugal. A dada altura o próprio utilizador pode atribuir valores a essas variáveis e ver em tempo real os efeitos previsíveis. Isto é verdadeiro valor acrescentado.

Outro exemplo no mesmo contexto de uma agência de notícias: a divulgação de vídeos para reforçar o teor das notícias publicadas.

O Flash, e tecnologias semelhantes, tornam a Web mais rica e são muito bem-vindas.

O mau

Talvez não seja justo dizer que há desvantagens no Flash, porque a verdade é que as desvantagens estão apenas na sua má utilização. Trata-se de um ferramenta que permite a pessoas mais ou menos talentosas criarem animações com alguma facilidade. Além das suas consideráveis funcionalidades, o Flash disponibiliza centenas de efeitos predefinidos, que podem ser aplicados quase sem qualquer esforço.

Essa facilidade dá azo a que alguns designers menos sensíveis aos valores da web, criem animações “gratuitamente” e que não servem qualquer fim objectivo, acabando por não acrescentar qualquer valor real às páginas. E como é bastante barato desenvolver uma animação com os efeitos predefinidos no Flash, em oposição à criação de efeitos originais e exclusivos, o que se verifica é que encontramos o mesmo tipo de animações vezes sem conta. Passado algum tempo a impressão causada é substituída por indiferença ou até por irritação.

Para piorar a situação, durante muitos anos usou-se o Flash para colocar publicidade em bandas publicitárias animadas, rotativos, etc. Isto originou um fenómeno interessante chamado “banner blindness”, que consiste no facto de grande parte dos internautas nem sequer repararem na informação contida nessas bandas.

O problema torna-se mais grave no caso das páginas inteiramente em Flash. Aí, é frequente o uso ainda mais exagerado e descabido de animações e efeitos. Mas os factores mais negativos vêm do facto desses sítios não estarem em sintonia com as convenções da Web – não é possível adicionar uma parte específica do sítio aos favoritos; os botões “Anterior”, “Seguinte” e “Parar” dos navegadores não funcionam; por regra não é possível imprimir páginas; são mais lentos, etc.

Depois há toda a questão da acessibilidade, que é quase sempre inferior numa página em Flash do que noutra normal (em HTML). As convenções e valores da Web clamam por páginas acessíveis a todos, independentemente do equipamento e software que usam, ou de quaisquer impedimentos físicos que possam ter. Uma página em HTML é por regra mais acessível que um Flash, e se se seguirem todas as normas e recomendações neste aspecto (o que exige um trabalho considerável), torna-se mesmo totalmente acessível (dentro do possível).

O péssimo

Outro factor muito importante é a indexação das páginas nos motores de busca. Quanto melhor indexadas mais hipóteses há de atrair visitantes que efectuam pesquisas no Google, no Yahoo ou em qualquer outro motor de busca. Como o que é efectivamente indexado é o conteúdo (sobretudo texto), também aqui a utilização de sítios totalmente em Flash levanta problemas porque é muito mais difícil indexa-los convenientemente. Por outro lado, uma página HTML é pouco mais do que texto estruturado, por isso é facilmente indexada. O Flash tem vindo a fazer progressos importantes neste ponto (e noutros) mas a simplicidade do HTML não é rivalizável pelo Flash.

Mas o maior de todos os perigos vem do facto de se tratar de uma tecnologia proprietária, que é desenvolvida e promovida por uma única empresa, a Adobe. Trata-se de um gigante com provas dadas e até se poderia acreditar que o seu principal objectivo é somente o progresso. Onde está o tal perigo então? Bem, todos sabemos que, bem-intencionado ou não, cada qual puxa a brasa à sua sardinha. E o que acontece quando a toda-poderosa Microsoft também quer brasa para a sua sardinha? Nasce o Silverlight — uma tecnologia muito semelhante ao Flash. E agora? qual suportar? O Flash? O Silverlight? Ou teremos de destratar os nossos computadores com suporte para estes dois? E já agora para outros que entretanto surjam...

Talvez as singelas tecnologias abertas que tão bem nos têm servido continuem a ser a solução...

Conclusão

Não me considero anti-Flash. Considero mesmo que o Flash tem um lugar de pleno direito na Web. Mas sou um acérrimo opositor do seu mau uso e abuso, por todas as razões expostas acima.

A Internet é conteúdo, acessibilidade e conectividade. É por isso que pagamos a conta no final do mês. Uma página ou uma animação pode deixar-nos boquiabertos, mas isso não é algo que aconteça tanto como se possa pensar. Apesar de todas as virtudes do Flash, uma animação original demora muito tempo a ser desenvolvida e exige grandes profissionais –- e, por consequência, é dispendiosa. Mas mesmo que os visitantes fiquem impressionados quando vêm uma determinada animação, de certeza que não voltarão lá todas as semanas ou todos os meses só para a admirarem.

Creio que tudo se resume a isto: uma excelente animação ou uma página em Flash deslumbrante até pode atrair visitantes mas não os fará voltar regularmente... A menos que haja conteúdo. E por outro lado, será que animações impressionantes concentram a atenção naquilo que verdadeiramente importa transmitir? Ás vezes sim, muitas vezes não.

Se formos sóbrios na escolha da ferramenta certa para o serviço, poderemos criar sítios com conteúdo de qualidade, que é realçado por um grafismo elegante e inteligente, e usar Flash para criar valor acrescentado na forma de apresentações, vídeos, jogos, etc. O segredo está em usar o Flash como uma forma de veicular conteúdo em vez de na produção de meros ornatos que não servem qualquer fim.

Referências

Filipe Martins

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